marli

cara isso ai é muita coisa . . .  sim sim quem tem a chave pra explicar essa invenção da nossa produção musical? Ou seriam chaves? Abriram a caixa de Pandora? parece uma intervenção na rede ao mesmo tempo uma produção caseira-sofisticada, precária-hitech, que des-estabiliza nossos sentidos e choca por soar mal e tosco. No entanto, perguntando que nó é esse e pensando no video que disparou essa discussão pelas redes sociais , dá para afirmar não existe ingenuidade nesse trabalho. Se existe ingenuidade ela está apenas na imagem da jovem Marli que expressa mais um desejo de uma pureza, santidade e martírio que o infortúnio de sua vida a redime nesse lugar.

Não parece ser o mesmo fenômeno de muitos que se apropriam dos meios simplesmente e criam, com isso, experiências estéticas interessantes. No caso não dá pra saber se segue a lógica do faça você mesmo ou se tem aquele contexto de um diretor ou produtor que dá os toques e faz a produção. Independente, tem um jeito de fazer e um jogo interessante nisso tudo.

Jovem, negra, bela, doméstica?,  envolvida pelos apelos do mundo conta suas histórias, etc . . . É ótimo o ponto de vista de onde fala e pra quem fala. Me chamou atenção o álbum Céu de Anastácia referência direta ao filme Céu de Suely? Isso aqui é instigante para pensar aspectos da perspectiva feminina no mundo e da prostituição e do futuro e invenção da mulher brasileira. Nesse sentido Marli é heroína por enfrentar as questões que estão colocadas como violência, prostituição, que envolve .

Lembra um pouco as funkeiras que assumem um lugar do feminino num contexto até antes exclusivamente masculino. Sou feia mais to na moda etc de Denise Garcia etc.

Quanto ao ponto de vista estético acho interessante que ele dialoga com esse lugar "precário da existência", marginal, grotesco que revela um brasil que uma parte da sociedade quer esconder. O canto desafinado propõe muitas coisas ao mesmo tempo, desafinação no sentido de instável e a questão da apropriação. A gente gosta disso que beira o grotesco e brega porque de alguma forma fala da forma como temos acesso aos meios de produção e a precariedade da vida num contexto amplo. Será que essa emergência do Brasil como potência econômica mundial nos tirará desse lugar desletrado, inculto etc...

Outra coisa fundamental nesse tipo de produção é que ela assume o avesso que é politicamente correto no meio musical. Só o fato de não utilizar o fotoshop musical chamado Autotune, um software que disciplina e coloca qualquer desafinado no tom é um ato de descontextualização do universo sonoro. Esse software é muito utilizado nos estúdios e adorados pelos puristas. Mais um ponto positivo para Marli porque ela assume mais uma vez esse lugar não plastificado dos sons, que na contradição também nos fere a própria escuta.

Marli é diva, absoluta é muito melhor que Sthefany.


hits - 
cachaça - tomei sua cachaça pra ficar sóbria / 
uma garota do catece




Marli também canta em um português errado sem medo das concordâncias. Mas isso não seria expressão de uma boa parcela do brasil? Lembrando que o deputado federal mais votado no Brasil nas eleições recentes foi um palhaço, analfabeto, artista brega e ainda uma parte da

"A gente é torto igual Garrincha, Alejadinho, ninguém precisa consertar. Se não der certo a gente se vira sozinho. De certo então nada vai dar. "

Aqui a desafinação não é questionada pela força da afinação ao modo dos distúrbios que os intervalos dissonantes proporcionam, assim como modo da bossa nova e o jazz que incorporam essas forças disrruptivas do som. Por sinal a desafinação e o ruído têm uma importancia fundamental na história da linguagem musical. Mas falar em afinação no contexto atual toma outra dimensão prinicipalmente pela facilidade de produzí-la com os softwares de áudio, assim como o photoshop com relação a fotografia com a imagem.

A desafinação de Não é a mesma desafinação que propõe Tom Jobim em Desafinado que a dissonancia se faz dentro do contexto do temperamento e da escala. O contexto dessa desafinação é outro. Se você disser que eu desafino eu desafino mesmo. E daí? Não dialogo na sua estrutura mas também tenho uma voz. O estranho, no entanto, é que há uma estruturação das bases e dos acordes que nos remetem a mesma música plastificada dos presets dos softwares prontinhos com seus timbres, samplers, efeitos. Nesse sentido é sim uma estrutura musical bem simples. Ela não faz como os músicos experimentais que muitos nem se quer estruturam a música dentro do tom. O canto dela é desafinado mesmo e com aquele efeito de reverbezinho


O trabalho de Marli lembra uma fala do Tom Zé que descrevia as transformações estruturais da canção e da aplicação do microtonalismo no funk da TatiTo ficando atoladinha. Um tipo de canção que só tem refrão e não tem afinação concreta. Por sinal, o rap e muitos funks cariocas nem sequer lidam com melodias na canção.

Um outro fato que se torna evidente nesses fenômenos, também nomeado por alguns como globalghetotech ao modo dos estilos tecnobrega, funk carioca, kuduro, champeta, cumbia digital, entre outros fenômenos musicais da periferia que criam uma produção fora do eixo. Está posto ali é a velocidade de produção que os meios digitais possibilitam. Antes de tudo ocupar um lugar na rede e uma voz está também na velocidade de produção e publicação nos meios digitai. Ela já lançou o álbum do natal ontem 09/11 seguindo o modelo dos famosos que alimentam a industria fonográfica.

Enquanto escuto as música na sala, alguns amigos disseram. Obici vc precisa rever seus conceitos de música. Tive que responder isso aqui não se trata de Música, ou disso que se considerou até aqui como música. Tem muito mais do que isso. Mas de músicas.

A música "A garota do cacete" lembra um pouco o lugar das funkeiras que assumem falar da sexualidade, quase uma pedagogia
http://www.youtube.com/watch?v=PdjyTYB4cgg&feature=related