Como pode? Alvin Lucier veio para o Brasil tocar duas noites no 45o Festival Musica Nova. Alguém sabia? Alguém viu alguma divulgação? Eu não sabia. Nenhuma divulgação. Pouquíssimas pessoas na platéia. Quase ninguém. Fui quase por acaso, no segundo concerto, por um encontro casual de amigos no departamento de música. Descaso? Incompetência? Dinheiro público mal utilizado? O tanto que estou afetado e impactado com a apresentação de Lucier neste momento só aumenta minha indignação e o descaso que existe entorno disso tudo. Disseram que no primeiro dia tinham 10 pessoas na platéia. Ontem umas 30.
Nunca imaginei que o conheceria pessoalmente, muito menos que iria escutá-lo ao vivo. Uma alegria impagável, um acontecimento. Já de idade, não contendo os movimentos das mãos, tocando com dois lápis vários potes numa mesa sem amplificação qualquer. De tamanha fragilidade e força que exigia de nossos ouvidos tamanha envergadura auricular. pla tamanha envergadura auditiva potência sonora como a experiência sonora. Seguindo o programa da noite, " I am sitting in a room" peça inimaginável, experiência impagável, uma das obras mais feliz que confronta toda tecnologia de gravação e reprodução de tal forma e a coloca em espelho, loop, feedback um tipo de performance da própria tecnologia, uma performatização da mídia que nos leva a interpretações diversas ... tantas vezes a ouvi, tantas vezes a discuti em workshops, oficinas e aulas que encontrar-me com aquela peça me trouxe ainda outras questões antes não pensada. Encerrando o concerto , tocou "Nothing Is Real" peça no piano e depois sua gravação interpretada num pote de porcelana com auto-falante.
Saí do teatro compartilhando com os colegas a sensação era de que nunca mais iria encontrá-lo vivo que a vida daquilo já era outra... nao menos mas tão radical ainda quanto doente também mas, propondo escutas radicais... A força que experenciei ontem só me deixa mais indignado pelo descaso com o bem comum que é a cultura e a arte neste país.